A gente sempre fala muito sobre consumir melhor, sobre usar o consumo como forma de estimular iniciativas de negócios que ajudem a construir um mundo mais justo. Mas até pra fazer essas escolhas, a gente precisa entender um bocadinho mais do porquê de uma escolha ser melhor do que outra.
Por isso, a nossa dica de hoje é sobre uma matéria muito bacana que o pessoal do Modefica publicou no ano passado: Algodão Orgânico no Brasil: MST, Agroecologia e Justiça Social.
Pra quem não sabe, o Modefica, como o próprio canal se define, é uma plataforma independente e transdisciplinar com foco em sustentabilidade e futuro. Nessa reportagem, eles vão a fundo para entender o uso do algodão na moda, explicando um pouco do contexto do mercado de algodão convencional, passando pela certificação BCI (Better Cotton Initiative) e fazendo o contraponto com o algodão orgânico.
O Modefica atenta para o fato de que o Brasil se enquadra entre os maiores produtores de algodão do mundo e que a nossa produção hoje está predominantemente baseada na agricultura patronal – muito representada pela bancada ruralista. São exploradas as principais desvantagens desse modelo, como a sua relação com o desmatamento e o emprego de poucas pessoas.
Diante da crescente preocupação com as questões ambientais, o modelo convencional de agricultura patronal passou a difundir, então, o algodão BCI e o ABR (Algodão Brasileiro Responsável) como alternativas sustentáveis. De um modo bem resumido, alguns dos princípios dessas certificações, por exemplo, visam minimizar o impacto prejudicial dos agrotóxicos, administrar melhor o uso da água, cuidar da saúde do solo, aumentar a biodiversidade da terra, promover trabalho descente, entre vários outros.
A reportagem mergulha em números, em entrevistas e, dentro de uma análise mais macro da sociedade, alerta para o fato de que esse tipo de certificação, pode ser um começo, mas ainda há sérias limitações. A matéria cita Flávia Aranha, que vem trabalhando em sua marca com algodão orgânico há mais de uma década: “é claro que eu acho que é melhor alguma coisa do que nada, mas não dá pra gente ficar satisfeito com um algodão que continua com volumes absurdos de agrotóxicos, que é pautado pela monocultura, que é produtivo na entressafra da soja – uma cultura ligada ao desmatamento e a todos os impactos ambientais e sociais negativos que a gente já está cansado de saber”.
A matéria segue destacando o algodão orgânico e agroecológico como uma solução a ser estimulada e aponta dados que mostram que no Brasil ela é majoritariamente feita por assentamentos do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e pela agricultura familiar. Esse modelo não usa agrotóxicos e se desenvolve de forma agroecológica, junto com a cultura de subsistência de outros cultivos. Por isso, respeitam mais a cultura e ambiente das comunidades locais onde estão inseridas. Outra vantagem é que, ao ser vendido por um preço justo no mercado, o algodão orgânico garante renda para os pequenos agricultores envolvidos no plantio.
São abordadas algumas das dificuldades que fazem com que a escala ainda seja muito pequena em relação ao algodão do agronegócio, como as dificuldades no acesso à certificação orgânica, entre outras.
Fica aqui o nosso muito obrigada ao Modefica por trazer reflexões tão importantes que acabam nos ajudando a entender melhor, como consumidores, como marca, como cidadãos, quais os caminhos a seguir e quais os desafios a serem superados.
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