O envio de milhares de peças de roupas usadas em países da Europa e dos Estados Unidos, especialmente, pode parecer uma ideia genial, mas escondem uma realidade muito mais complexa e nociva para os países subdesenvolvidos.
Reciclar é bom e reutilizar é bom, mas no tocante à moda, a quantidade produzida – e consequentemente doada – é muito grande. Segundo a equipe da Fashion Revolution Portugal, uma das maiores ONGs que opera no ramo recolheu só em 2015 mais de 5 mil toneladas de roupa doada.
O problema é que grande parte das roupas doadas na Europa são enviadas em conteiners para países subdesenvolvidos da África, Europa de Leste e Sul da Ásia, onde são posteriormente vendidos nos mercados a preços tão baixos, que têm vindo a destruir a indústria têxtil local, apesar dos consecutivos esforços dos respetivos governos em subsidiar as fábricas para desenvolverem uma economia independente e livre da dívida do Ocidente.
Gana, por exemplo, é o país que mais recebe doação dessas roupas, e viu suas atividades fabris de confecção serem reduzidas de 40 fábricas para apenas 1, e no Zâmbia, produtores de algodão passaram a ter poder de compra só para roupas de segunda mão, não para seu próprio produto.
Ou seja, ironicamente, as roupas feitas por comunidades pobres dos países subdesenvolvidos, enviadas para o consumidor ocidental a usar durante pouco tempo e, ao doar para organizações que as vendem de novo para esses países em situação de subdesenvolvimento, prejudica a sua produção local de roupas e aprisiona ainda mais sua economia ao ocidente.
Assim, ao consumir, podemos ter nossa parte de responsabilidade nesse ciclo. No fundo, a tática para quebrar esse ciclo é simples e depende muito de cada consumidor. Pense primeiro: preciso mesmo consumir isso? É possível reformar uma peça ou trocar com alguém? Posso comprar de uma marca local, com princípios justos de trabalho e comércio?
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